08-11-2024 13:13

Uma das questões que tem suscitado cada vez mais discussão e motivo de preocupação é o reconhecimento que há vítimas de violência doméstica com muita dificuldade em sair da relação abusiva quando têm animais de companhia.
Para muitas vítimas, os animais são muito mais que simples companhia, são um apoio emocional e podem representar a única fonte de conforto e segurança no meio do sofrimento. Estudos apontam que a presença de um animal pode ajudar a aliviar sentimentos de ansiedade e depressão, comuns entre as pessoas em situação de violência.
Muitas vezes, o agressor utiliza os animais de companhia como uma forma de controlo ameaçando-os, agredindo ou até mesmo matando o animal para intimidar a vítima e forçá-la a permanecer na relação. Esse tipo de abuso emocional aumenta ainda mais o vínculo entre vítima e animal, tornando a saída ainda mais angustiante e difícil.
A Provedora do Animal, Profª. Drª. Laurentina Pedroso, salienta, “É hoje reconhecido que a violência entre as pessoas pode ser prevenida de forma eficaz através do reconhecimento dos maus-tratos a animais como um potencial indicador e preditor de violência doméstica, abuso de menores, de idosos e outros tipos de violência entre as pessoas. A responsabilização criminal dos agressores de animais aumenta a segurança da comunidade e que a inclusão da ligação Homem-Animal melhora a proteção às vítimas de violência”.
Em Portugal, são poucas as estruturas de acolhimento a vítimas de violência doméstica que conseguem acolher animais, o que é uma realidade muito preocupante. A maior parte não possui infraestruturas adequadas para acolher também os animais, colocando às vítimas o dilema: procurar ajuda e deixar o animal, correndo o risco que este seja maltratado, ou permanecer num relacionamento abusivo, mantendo-se próxima e protegendo o seu animal de companhia.
Presentemente, abrigar pessoas e animais em situação de violência doméstica e de vulnerabilidade é uma preocupação para a Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica, que tem fomentado o debate e a reflexão, de como podemos adaptar as estruturas existentes ao acolhimento de animais de companhia.
De facto, o Centro de Acolhimento de Emergência, do Gabinete de Atendimento à Família, tem constatado que vítimas de violência doméstica, detentoras de animais de companhia, acolhidas na nossa estrutura, revelam um grande sofrimento emocional e preocupação com o bem-estar do seu animal. Em muitos casos, verifica-se que a integração em estruturas de acolhimento, só ocorre após a garantia que o animal de companhia fique em segurança.