22-11-2024 17:39

A célebre Lei de Murphy, frequentemente resumida como "se algo pode correr mal, vai correr mal", originária do contexto da engenharia, rapidamente passou a ser usada em diversas áreas da vida. No campo do trabalho social, esta "lei" pode ser analisada de forma crítica, especialmente no que toca aos desafios enfrentados diariamente pelos profissionais que trabalham com a complexidade das relações humanas, a burocracia institucional e as vulnerabilidades sociais.
Atribuída ao engenheiro Edward A. Murphy nos anos de 1940, a frase original referia-se aos erros técnicos que ocorriam nos projetos e testes de resistência humana à gravidade, mas com o tempo tornou-se uma expressão universal para ilustrar o impacto de imprevistos e erros em qualquer situação.
Apesar do tom irónico, a Lei de Murphy espelha uma realidade prática: a tendência de fatores imprevistos ou erros influenciarem negativamente uma tarefa ou projeto, muitas vezes agravados por falta de preparação ou por se subestimar os desafios.
A Lei de Murphy no contexto do Trabalho Social
O trabalho social, enquanto conjunto de profissões que visam a promoção da justiça social e o combate às desigualdades, lida com contextos imprevisíveis e desafiantes, tornando a Lei de Murphy particularmente relevante. Eis alguns exemplos:
- Os/as profissionais do setor social trabalham frequentemente em sistemas institucionais marcados por processos burocráticos complexos. Problemas como a falta de documentação, falhas na conceção dos sistemas informáticos ou atrasos na aprovação de apoios sociais são exemplos práticos de situações em que "o que pode correr mal, corre mesmo mal". Estes problemas impactam não só o desempenho dos/as trabalhadores/as, mas também as pessoas acompanhadas;
- As interações humanas, por natureza, são imprevisíveis e complexas. Intervenções cuidadosamente planeadas podem ter resultados inesperados devido a fatores como resistência por parte das pessoas, mudanças nos contextos familiares ou comunitários, ou até por influências externas;
- A falta de recursos financeiros, humanos ou de infraestruturas é um problema recorrente no trabalho social. Situações como a ausência de vagas em programas de apoio ou a interrupção de serviços essenciais são desafios que frequentemente contrariam as expectativas e planos iniciais;
- O trabalho social envolve, muitas vezes, lidar com emergências e situações inesperadas, como situações de violência, calamidades naturais ou crises de saúde pública. Nestas circunstâncias, a Lei de Murphy destaca-se como um lembrete de que o inesperado é sempre uma possibilidade;
Superar os Efeitos da Lei de Murphy no contexto do Trabalho Social
Embora os imprevistos sejam inevitáveis, existem estratégias que podem ajudar quem trabalha no setor social a mitigar os seus impactos:
- Um planeamento rigoroso, que antecipe possíveis dificuldades, é essencial. Contudo, a flexibilidade para ajustar as estratégias face aos imprevistos é igualmente fundamental;
- Investir na formação e atualização de competências, tanto técnicas como relacionais, prepara as equipas do setor social para responder de forma mais eficaz a situações desafiantes;
- Lutar por melhores recursos, políticas sociais mais eficazes e infraestruturas adequadas é uma forma de reduzir os obstáculos sistémicos que frequentemente amplificam os imprevistos;
- A colaboração com demais profissionais, instituições e a comunidade, na esteira do trabalho em rede, pode criar soluções alternativas e aumentar a capacidade de resposta a crises.
A Lei de Murphy, com o seu tom cético, reflete a inevitabilidade de desafios e imprevistos, especialmente em profissões do setor social, onde interagem múltiplas variáveis humanas e institucionais. Contudo, estas/es trabalhadoras/es, pela sua formação ética, técnica e pela resiliência que as/os caracteriza, mostram que, mesmo diante de contratempos, é possível transformar adversidades em oportunidades de crescimento.
Com um planeamento cuidadoso, flexibilidade e uma abordagem centrada na dignidade humana, o trabalho social demonstra que, apesar da Lei de Murphy, é possível gerar mudanças significativas e duradouras na vida das pessoas e comunidades. É com este espírito humanista e solidário fortemente enraizado na cultura de todas as pessoas que trabalham no GAF - Gabinete de Atendimento à Família, que cumprimos a nossa missão: desenvolver respostas sociais que valorizem a dignidade, que promovam os direitos, o bem-estar, a inclusão e a cidadania de indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social e/ou económica.