06-12-2024 18:17

A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é um tema central na gestão contemporânea, desafiando as empresas a ir além do lucro e a contribuir para o bem-estar social. Entre as áreas mais sensíveis da RSE está a integração de pessoas em situação de vulnerabilidade social, como pessoas com deficiência, refugiados, desempregados de longa duração ou indivíduos oriundos de contextos desfavorecidos.
Apesar das vantagens claras de promover a inclusão, muitas empresas ainda enfrentam resistências internas e externas na adoção de políticas que integrem estas pessoas.
A resistência das empresas: uma barreira persistente
Embora os benefícios da inclusão social sejam amplamente reconhecidos, as empresas frequentemente hesitam em contratar pessoas de grupos vulneráveis. Esta resistência deve-se a vários fatores:
1. Preconceitos e estereótipos
Um dos maiores obstáculos é o preconceito, consciente ou inconsciente, que associa vulnerabilidade social a baixa produtividade, falta de competências ou maior rotatividade. Por exemplo, indivíduos com deficiência são frequentemente vistos como menos capazes, apesar de estudos mostrarem que, com adaptações adequadas, a sua produtividade é comparável ou superior à de outros trabalhadores.
2. Desconhecimento das condições de apoio
Muitas empresas desconhecem os incentivos fiscais, subsídios e programas governamentais disponíveis para apoiar a contratação de pessoas em situação de vulnerabilidade. Esta falta de informação pode levar a perceções erradas sobre os custos associados.
3. Receio de custos adicionais
Há uma perceção generalizada de que contratar pessoas em situação vulnerável implica custos elevados, como a adaptação de infraestruturas ou formação adicional. Este receio pode ser exacerbado pela pressão de atingir resultados financeiros de curto prazo.
4. Falta de sensibilização interna
Muitas organizações não promovem a sensibilização dos seus colaboradores sobre a importância da inclusão, o que resulta numa cultura corporativa resistente à mudança.
5. Medo do insucesso
As empresas podem recear que iniciativas de inclusão não resultem em benefícios tangíveis ou que o impacto seja difícil de medir, gerando uma hesitação em implementar políticas ousadas.
As vantagens de contratar pessoas em situação de vulnerabilidade social
Superar estas resistências não só contribui para a justiça social, mas também oferece vantagens significativas às empresas, incluindo benefícios económicos, culturais e estratégicos. Eis os principais:
1. Aumento da diversidade e da inovação
Equipas diversas, compostas por pessoas com diferentes experiências de vida, têm um impacto direto na inovação. A diversidade estimula abordagens criativas e soluções diferenciadas para problemas, oferecendo uma vantagem competitiva.
2. Fortalecimento da reputação corporativa
Empresas inclusivas são mais bem vistas por consumidores, parceiros e investidores. A contratação de pessoas de grupos vulneráveis reforça a imagem de responsabilidade social da empresa, atraindo clientes que valorizam práticas éticas.
3. Aumento da produtividade e motivação
Contratar pessoas em situação de vulnerabilidade social pode ter um impacto positivo na motivação geral da equipa. Colaboradores valorizam empresas que demonstram um compromisso real com valores sociais, o que melhora a moral e reduz a rotatividade.
4. Acesso a incentivos e benefícios fiscais
Muitas legislações oferecem incentivos fiscais para empresas que contratam pessoas em situação de vulnerabilidade. Por exemplo, em Portugal, empresas que contratam pessoas com deficiência podem beneficiar de redução de contribuições para a Segurança Social e de apoios para adaptação de postos de trabalho.
5. Melhoria na retenção de talentos
Pessoas em situação de vulnerabilidade social tendem a demonstrar maior lealdade às empresas que lhes oferecem oportunidades. Isto traduz-se numa menor taxa de rotatividade e numa maior consistência na força de trabalho.
6. Contribuição para a sustentabilidade social
Empresas que promovem a inclusão têm um impacto direto na redução das desigualdades sociais e no fortalecimento das comunidades. Este impacto cria um ciclo virtuoso, pois comunidades mais fortes sustentam mercados mais estáveis e consumidores mais fiéis.
A resistência das empresas em contratar pessoas em situação de vulnerabilidade social é uma barreira real, mas não intransponível. Através de estratégias bem estruturadas e de um compromisso genuíno com a inclusão, as organizações podem transformar preconceitos em oportunidades e desafios em vantagens competitivas.
A aposta na diversidade não é apenas um imperativo ético; é um investimento inteligente que beneficia a empresa, os colaboradores e a sociedade como um todo. Mais do que contratar pessoas em situação de vulnerabilidade, trata-se de abrir portas para um futuro mais justo, inovador e sustentável.
O projeto Incorpora, da Fundação “la Caixa”, destaca-se como uma iniciativa exemplar de impacto social. Promove a empregabilidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social, oferecendo mais do que apenas uma oportunidade de trabalho. Este projeto tem um papel fundamental na valorização pessoal, profissional e social dos beneficiários, ajudando-os a alcançar autonomia e dignidade através da integração no mercado de trabalho.
Além disso, o programa Incorpora também se posiciona como um parceiro estratégico para as empresas, ao fomentar práticas de responsabilidade social corporativa. Ao contratar candidatos oriundos do programa, as empresas não apenas colmatam as suas necessidades de recrutamento, como também contribuem diretamente para a inclusão e equidade social, alinhando os seus objetivos de negócio a valores sociais.
Desta forma, o Incorpora reforça a importância da colaboração entre setor privado, setor social e a comunidade na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Esta abordagem multidimensional, que beneficia tanto as pessoas quanto as organizações, é um modelo de como iniciativas podem gerar impacto positivo e sustentável em larga escala.