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Perspetivas e Reflexões • Eu sou no meu silêncio • Por Miguel Fernandes

30-11-2021 17:48



Eu sou no meu silêncio…

Espero que este meu juízo simples e espontâneo se possa servir daquilo que são as minhas emoções e que estas se possam traduzir naquilo que são as minhas palavras. Procurei sempre, mas sempre, que a ideia assista a emoção e que claramente não a domine…

…Convido-o a escutar o seu silêncio, eu também o fiz, num ato intencional de consciência, procurando encarar os fantasmas que nos mantêm dentro da intrincada mentalidade humana.

Sim…uma viagem que na realidade pouco faço, e não é fácil escutar o meu silêncio! Talvez a dimensão mais penetrante do meu ser… por vezes, um precipício tão abissal, que, ao olhar para dentro de mim, fico com vertigens. O seu poder regenerador por vezes liberta-me dos meus pensamentos, dos meus medos. Constantemente pergunto quem realmente sou…? Percebo que não sei quem sou. E na verdade quem sabe? Vocês sabem quem são? Confessem, por vezes tal como eu temos medo de descobrir quem realmente somos... e que devemos sondar o nosso “eu” com muito cuidado, pois por vezes, o resultado pode ser muito doloroso. Mas acreditem, há momentos de epifania, momentos de completa percepção da essência de algo. Procurar responder será obviamente arreigar numa imensidade penetrante de paradoxo filosófico, aos olhos da “Lenda de Teseu”, segundo o historiador grego Plutarco. Por vezes reflectir profundamente poderá ser um problema, pois a lucidez é mais dolorosa do que a loucura… além do mais, a loucura seduz… Mas será assim tão difícil responder à questão “Quem sou eu?”. O que aprendi, o que perdi e o que amadureci…. Fernando Pessoa referia “A vida é para nós o que concebemos dela…”. A liberdade de escolhas é incondicional? O indivíduo é o único responsável pelas suas próprias escolhas? À medida que ganhamos experiências, um pouco mais nos é revelado, e por vezes sofremos porque não nos conhecemos, mas afinal, que graça teria a vida, se já soubéssemos o final das coisas antes mesmo de tentar. Seria viver a vida ao inverso… Shakespeare proferia “O mundo inteiro é um palco. E todos os homens e mulheres não passam de meros atores. Eles entram e saem de cena. E cada um no seu tempo representa diversos papéis.” Esta reflexão é particularmente interessante quando analisada à lente da sexualidade e do género. Seria outra maiêutica… num “irrepreensível silêncio” naturalmente. Porventura não existe certo ou errado quando o assunto é a forma como encaramos a vida, aquilo que somos e em que nos tornámos… mas não será importante desbloquearmos por vezes a paralisia afetiva, o sustento do vício, enfim, é nela que parece estar simultaneamente a maior alienação... no fundo a naturalização do social. Lembro-me de aqui há uns tempos perguntavam ao meu filho na escola: “- Então qual é a profissão do teu pai?” “- Toxicodependente”, respondia com um sorriso luminoso… a infância e a pureza. “Um elefante” aos olhos de uma criança, como Saint Exupéry magistralmente retratou…, na realidade os seres simbólicos em que nos tornámos. É que nós queremos crescer e quando crescidos queremos voltar ao início... o princípio... o abismo da loucura... Felizes daqueles que procuram a pureza de sentimentos... a pureza que faz com que alcancemos a magia da vida... o estado mais puro do ser humano… No fundo é um processo de “ser” e de “se tornar”... Bem, apesar de tudo, resta a fé, a gratidão, a alegria e a esperança... a crença inabalável de que o mundo pode ser um melhor lugar, onde a necessária suspensão ética nos pode ajudar na compreensão da nossa racionalidade, importante numa sociedade que por vezes, mata, antes de matar, onde por vezes sentimos vazio, mesmo estando “embrulhados” de pessoas, onde o importante é aparentar ser um Homem justo e bondoso, não sendo necessário sê-lo de facto… Onde está o filtro? Será que vivemos num mundo em que não sabemos lidar com as emoções? Vivemos num mundo em que relativizamos apenas o que nos interessa; a velha história de que quando eu minto é uma mentirinha, quando os outros mentem são aldrabões… Não posso omitir Platão que superiormente, na “República - Anel de Giges”, colocava a questão ”Como agiriam, caso tivessem a faculdade de fazer maldade e soubessem que nunca seriam apanhados ou punidos”. Enfim, cada indivíduo encerra em si o potencial para a bondade e para a maldade, no entanto acredito que o hálito da perpetuidade, da eternização é um mero engano… e os que dizem que são irredutíveis nas suas convicções, ou são idiotas ou mentirosos. Surge a angústia existencial, a vida é finita… Termino em tempo de começo para que as histórias continuem… Mas afinal quem sou eu? Quem sou eu para os outros? Quem sou eu quando escrevo? Quem sou eu quando corro? Quem sou eu quando trabalho? Quem sou eu quando amo? Todas as explicações que eu poderia acrescentar para explicar, apenas serviriam para me confinar a uma intrincada malha de limitações e dogmas, provavelmente sem utilidade alguma. Portanto, estas são palavras de um homem simples: – EU NÃO SEI... Até quando continuaremos a ser estranhos para nós próprios? O Pessoa anunciava que ”Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Sim, ontem sonhei… habitei o imaginário e alcancei a tomada de consciência do “Eu”, muito à imagem da obra “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll, num profundo país de sonhos, onde ainda se pode ser livre, onde a solidão nos conduz à criação... Vejam, por vezes não se trata do que os outros pensam a respeito de nós, mas sim,o que nós podemos descobrir acerca de nós próprios. Por vezes, fugir de nós próprios não é fácil, porque a autêntica liberdade emerge da nossa própria conquista consciente do “eu”. O Miguel Torga, dizia que uma identidade não significa necessariamente fechar-se ao respeito por “outras identidades”… por vezes, "O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração”. (Antoine de Saint-Exupéry no seu livro “o Principezinho”)

Desculpem a incontinência mental

Viva a eternidade do momento…

Bom começo para o seu eu…

Seja Feliz…

Perspetivas e Reflexões • Eu sou no meu silêncio…
Miguel Fernandes, 30 de Novembro de 2021, Técnico Superior de Educação da UAT do GABINETE DE ATENDIMENTO À FAMÍLIA (GAF)





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